Ao contrário do que pensam os incautos, o ano na Bahia não se
inicia depois do Carnaval, mas sim quando o Vitória começa a jogar bola.
E como neste domingo, diante do Conquista, o Leão praticou o fino do
Ludopédio, já se pode afirmar sem medo de errar: o ano, finalmente,
começou. Atenção, hereges, acertem os ponteiros dos relógios, pois
estamos em 2014.
Por falar em acertar ponteiros, foi exatamente isso que os jogadores
fizerem antes mesmo de a bola rolar. Reunidos em círculo, parecem que
eles se comprometeram a fazer valer o bicho, em todas as acepções da
palavra. Algo como um ritual de passagem de ano novo, para ficarmos no
campo das simbologias.
E como se precisássemos expurgar fantasmas, o primeiro gol foi
exatamente de uma caveira, após um vacilo monstruoso da zaga do
Conquista. Menos de 15 minutos a zaga Alviverde ficou assombrada,
entregou a rapadura, e Hugo guardou no canto. Vale lembrar que neste
interregno (recebam, fariseus, um interregno nos mamilos), o goleiro Augusto quase papa um peru de outro mundo num chute de Ayrton.
Por falar nisso, o lateral voltou a calibrar o pé, meteu uma
tamancada assombrosa de fora da área, o goleiro rebateu e Juan deu
números finais ao primeiro tempo. 3 x 0. Números finais é modo de dizer,
pois se quiséssemos botar a matemática em campo, poderíamos dizer que o
Vitória teve 128% de posse de bola, jogou com 114% de garra e técnica,
além de ter tido um compromisso tático acima da média.
Aliás, Ney Franco largou o doce: “Nossa equipe é forte quando
joga bem postada. Do jeito que vínhamos jogando, poderíamos colocar o
Baresi na zaga, o Piazza, o Luizinho, os melhores zagueiros do mundo – e
eles ainda ficariam expostos. Fizemos um ajuste no meio de campo, pedi
bom posicionamento dos laterais e dos homens que ficam á frente da zaga.
Os nossos jogadores são bons, mas estavam expostos. Além da qualidade
na parte ofensiva, precisamos fazer um jogo sem correr riscos”.
Perfeito, Ney, só uma pergunta. Por que diabos vossência esperou três
meses para perceber o óbvio e mudar o sistema antigo? Assim, minhas 548
pontes de safenas num aguentam, meu caro.
Mas voltemos a falar de jangada, que é pau que bóia.
Na segunda etapa, mesmo sem um centroavante fixo, o time continuou
com gosto de querosene. E marcou mais três gols. Aliás, minto. Não foram
três gols, foram três golaços, isso sem contar uma infinidade de lances
desperdiçados. Porém, não há o que se queixar. Só perde quem cria.
Outro dado extremamente relevante foi que nos noventinha, Wilson fez
apenas uma defesa. O fato ocorreu depois que Rodrigo Defendi espirrou o
taco numa cabeçada e o atacante do Conquista chegou de cara com o gol,
sendo fungado no cangote por Dão.
Ah, sim, quando a maré tá boa o rio corre para o mar tranquilamente.
Do nada, começamos, em tom de galhofa, a puxar um coro de elogios a Dão.
Ato contínuo, o referido passou a acreditar. E partia para cada bola
como um pedreiro vai num prato de comida após um dia de labuta.
E foi assim que ontem nasceu um zagueiro, assim como também nasceu o ano novo que vai perdurar até dezembro.
Oremos.
P.S Ah, sim. Soube que, depois de saber que o Vitória voltou a jogar
bola, houve um rebuliço doido lá pras bandas de Itinga. Aquelas
lembranças das goleadas do ano passado voltaram a assombrar. Porém,
espero, sinceramente, que caso o Vitória meta nova goleada a torcida
tricolor num fique gritando. “Volta, tiririquinha. Devolvam, meu Bahia“
Victoria Quae Sera Tamen
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