Vice-presidente do Vitória na gestão de Paulo Carneiro, Walter Seijo, tenta na Justiça suspender as eleições para o Conselho Deliberativo do rubro-negro baiano, que acontecem no próximo dia 6. De acordo com o líder da chapa Vitória Século 21, os atuais gestores do clube têm feito de tudo para impedir a formação de uma oposição forte para concorrer ao comando. Junto com o advogado Bruno Torres, o opositor explicou ao Bahia Notícias as diversas polêmicas envolvendo a relação com a atual diretoria e com o ex-presidente, além do atual momento da equipe, dentro e fora de campo.
Bahia Notícias: Quais seriam as principais mudanças da atual gestão para um possível comando do Vitória Século 21?
Walter Seijo: Eu listei 10 diferenças fundamentais: a
primeira é a democratização. A gente quer abrir o clube, democratizar
para ter eleições diretas para presidente e, no caso da eleição do
conselho, a gente quer a participação proporcional das chapas. No
Vitória, hoje, quando você elege uma chapa, ela fica integralmente no
conselho e o clube não tem oposição. Essa chapa eleita modifica o
estatuto da maneira que quer e fica trabalhando para a perpetuação. Ela
vai fazer um regimento eleitoral da maneira que quer para vencer as
eleições, dificultando a presença da oposição. Esse sistema do Vitória é
muito arcaico e voltado para a predominância do poder que lá está.
Segundo ponto importante: o Vitória precisa aumentar substancialmente as
suas receitas e só vai conseguir isso quando tiver a sua própria arena.
A diretoria do Vitória já deu sinais, e agora, por causa do momento
político, quer mostrar que não, mas a gente sabe que o interesse deles é
levar o Vitória para a Arena Fonte Nova. Isso é matar o Vitória. Você
limita o Vitória ao faturamento e ele vai ser um clube medíocre pelo
resto da vida. Para o Vitória, a Fonte Nova é um péssimo negócio.
Negócio bom é ter sua própria arena. Pensamos na profissionalização do
clube, já que nós somos contra um clube de futebol da grandeza do
Vitória sendo administrado de uma forma amadora. O Vitória precisa de um
plano de sócios totalmente diferente do que tem hoje, já que, nos
últimos oito anos, é simplesmente uma venda antecipada de ingressos por
um preço reduzido. O plano deve ser amplo, abrangente, para fornecer o
que é o melhor para o torcedor. Nos últimos oito anos, a divisão de base
do Vitória lançou apenas um jogador de alto nível, que foi o Gabriel
Paulista. Ela tem que produzir, revelar atletas de alto rendimento para o
time profissional. Porque quando é você quem revela, o atleta tem um
salário razoável, porque está começando a carreira e, antes de terminar o
contrato, você negocia esse jogador e gera caixa, riqueza para o clube
se manter sustentável para crescer. Outro ponto importante: fazer times
competitivos nacionalmente. O Vitória, antes da gestão que eu
participei, era um clube que não tinha nem títulos estaduais. Hoje, a
torcida enjoou de título estadual e regional. Campeonato do Nordeste,
Campeonato Baiano, já ganhou demais. O torcedor do Vitória quer um
título nacional.
BN: Existem correntes que defendem a diminuição dos estaduais,
ou até a extinção. Ney Franco defendeu, em uma entrevista para o BN, a
redução dos estaduais. O que o Vitória Século 21 acha do formato dos
estaduais?
WS: A minha opinião é que os estaduais têm que
caminhar com os clubes locais até o final e, em uma última etapa, num
quadrangular decisivo, o Vitória e o Bahia entrem.
BN: Ficaria parecido com o que está hoje...
WS: Eu entendo que o calendário brasileiro deveria ser
igual ao calendário europeu. No Uruguai, já é assim. Nós devemos ter
campeonatos começando em agosto, setembro e ir até maio. Esse ano, você
vai ter a Copa do Mundo, e todos os campeonatos vão parar por causa
disso. As janelas do Campeonato Brasileiro devem ser casadas com as do
europeu porque a locomotiva do futebol mundial é a Europa. Eu defendo a
redução do número de campeonatos: você tem Campeonato Brasileiro, Copa
do Brasil, Sul-Americana, Copa do Nordeste e Campeonato Baiano. Nem o
público quer consumir tanto produto de qualidade duvidosa. Um campeonato
estadual é bom para um determinado tipo de público em um determinado
tipo de lugar. Para os times de ponta, não. O Século 21 também defende
um novo modelo de distribuição de receitas de televisão. Não do jeito
que tá, que uns clubes cada vez ganham mais e outros ficam estagnados
com receitas pequenas. Quando a televisão passou a negociar
individualmente, os clubes perderam o poder de barganha. Se os clubes
todos negociassem juntos, teriam um poder de barganha maior, e também
deviam fazer uma licitação de pacote fechado ou fazer um leilão de
aberto. Essas negociações de televisão são muito nebulosas, deveriam ser
mais transparentes e, se possível, ter um leilão. Na minha opinião,
devia ter um patamar mínimo para todos os clubes e, a partir daí, você
deveria ter uma divisão a partir da classificação dos clubes nos
torneios. Na Inglaterra, a divisão é assim: você tem um valor para todos
e depois você tem uma divisão por performance técnica, por audiência,
várias situações para fazer uma divisão justa. Se não, o time que for
pequeno vai continuar sendo pequeno. O time grande, mesmo sem boa
capacitação técnica, vai continuar recebendo mais. Você nunca vai ter,
no futebol, a incerteza do resultado que os americanos têm. Nos Estados
Unidos, em todos os esportes, você tem times muito fortes contra alguns
que não estão tão fortes naquele momento. Só para concluir o pensamento,
vou te dar um exemplo: no ano passado, no beisebol americano, o Boston
Red Sox ficou em último lugar na liga de beisebol. Esse ano, foi
campeão. Porque são todos os clubes muito estruturados, empresas muito
estruturadas, e o time varia. Como a estrutura é muito forte, o time vai
mal em um ano, mas fica bem no outro. Isso foi o que aconteceu com o
Vitória em 2005: a estrutura estava muito forte e o time não estava bem,
então caiu. Este ano, é o contrário: a estrutura do Vitória está muito
ruim e o time está bem. A visão que o torcedor tem fora do campo é que o
clube e o time são a mesma coisa, e não é assim.
BN: O que você acredita que está ruim na administração atual do Vitória?
WS: O modelo. O Vitória tem um modelo amador, sem
liderança, onde não tem visão de negócio. O Vitória não trabalha como
empresa, não agride o mercado. É um clube que espera: eles dizem que
aumentaram uma receita de televisão. Eles simplesmente se juntaram ao
Clube dos 13 e a emissora que distribui disse assim: "Você vai receber
tanto esse ano". O Brasil está crescendo e a tendência é que os clubes
enriqueçam à medida em que o país melhora. A gestão é amadora, as
pessoas trabalham pouco, as pessoas não têm expertise no negócio. Agora
eles começaram a falar da arena porque nós falamos em construir a arena,
já que o torcedor mostrou que não quer ir para a Fonte Nova. A gente
tem informações de que eles já tinham acertado dez jogos para o ano que
vem lá na Arena, e essa é a pior alternativa, já que para a Fonte Nova
vai o filé e para o Barradão, vai o lixo. A parte financeira também é
péssima, porque nesses oito anos foram 127 ações trabalhistas. O Vitória
tem dois CNPJs: o Vitória S/A e o Esporte Clube Vitória. Eles operaram
com o Vitória S/A até o ano de 2008, quando devia cerca de R$ 84
milhões. A dívida que nós deixamos no Vitória foi de R$ 26 milhões.
Quando nós fizemos a negociação com o Excel, o grupo argentino, o
Esporte Clube Vitória devia, em 2000, 9 milhões de dólares. Ao comprar
as ações, o Excel colocou 6 milhões de dólares no clube. Nós, com esses 6
milhões de dólares, negociamos e deixamos o clube zerado. Quando nós
saímos, eles continuaram tocando o S/A. Em 2009, eles fizeram uma mágica
de David Copperfield e a dívida ficou negativa, como se ele tivesse um
saldo. Eles pararam de operar o S/A, colocaram em uma salinha em Lauro
de Freitas, e passaram a operar o clube. Eles fizeram isso para os
credores pararem de cobrar e prescrever a dívida. O que se divulga é que
eles pagaram uma fortuna de dívidas, no relatório deles diz assim:
"Pesquisa BDO: 1º clube em redução de endividamento". Isso eles falam e
os conselheiros acreditam.
Bruno Torres: Há um risco muito grande dessas ações
envolvendo o ocultamento de dívidas do Vitória S/A se tornarem um
procedimento de investigação pelos órgãos de fiscalização, como o
Ministério Público do Trabalho e o Ministério Público Federal. O Vitória
S/A respondia na Justiça ações trabalhistas e fiscais, de débitos
tributários, que não estão suspensos pelo parcelamento do Time Mania,
que muitos clubes foram contemplados. As dívidas do Vitória S/A foram
ocultadas para frustrar execuções, débitos dos credores e essas
execuções não foram redirecionados para o Esporte Clube Vitória, que é a
entidade que não tem débito. Esse procedimento é perigoso que pode
ensejar uma verificação de uma possível fraude de execução, que é um
tipo penal, um tipo cível específico para ações dessa natureza. O
Esporte Clube Vitória pode ser penalizado com esses débitos e ter que
arcar com essas dívidas que foram fruto de um procedimento contábil, de
uma manobra administrativa, ocultadas para poder livrar o pagamento.
WS: Observe o relatório que eles fizeram para o
conselho. Nós saímos em 2005, quando o Vitória estava na série B. Ele
diz que nós gastamos R$ 51 milhões, mas nesse ano estava prevista uma
despesa de R$ 11 milhões e uma receita de R$ 8 milhões. Eles lançaram
isso para mostrar que, no último ano, desequilibramos o clube. Mas nós
deixamos Hulk, David Luiz, Wallace, Leandro Domingues, Marcelo Moreno,
Elkeson, Anderson Martins, Victor Ramos... Nós deixamos R$ 40 milhões em
jogador. Deixamos dívida, mas deixamos riquezas para pagar. Deixamos o
clube com uma estrutura enorme e uma torcida, que era 11%, em 42%. A
vida deles é de oito anos de massacre, ataques sem parar.
BN: Mas por que vocês nunca entraram com uma ação na Justiça?
WS: Eles nunca nos deram o momento e o espaço necessário.
BT: Os credores são quem tem que pleitear. Cabe ao cidadão comum comunicar esses fatos às autoridades competentes.
BN: E a relação com Paulo Carneiro?
WS: O objetivo deles é dizer que o Século 21 é
liderado por Paulo Carneiro, mas ele não tem nada a ver. Paulo Carneiro
apoia qualquer chapa que seja de oposição e tenha o pensamento parecido
com o dele. Ele sabe que a liderança é minha, confia em mim e conhece o
pessoal do grupo, que é da melhor qualidade. Eles querem que a imprensa
cole Paulo Carneiro no Século 21, dizendo até mesmo que ele "quer mamar
nas tetas do Leão". Isso lá é linguagem de um presidente de clube? O
Século 21 ganhando, nem eu volto. Eu trabalho para ajudar o Vitória, que
eu ajudei a construir. Eu entendo que essas pessoas no Vitória são um
desastre para o clube.
BN: Então quem seria um possível candidato a presidente?
WS: Nós estamos tendo boas conversas. Neste momento, é só a eleição do conselho, que vai demorar.
BT: Há uma confusão muito grande por parte da torcida
de que as eleições agora são para presidente. As eleições para
presidente são até dez dias depois. Hoje, você tem 350 candidatos ao
conselho, e o Vitória Século 21 vai de encontro a isso, já que não é
possível que esses 350 escolham o presidente. Isso vai na contramão do
racioncínio de toda agremiação esportiva, que prezam pelas eleições
diretas.
WS: Uma chapa que tem 30% dos votos deve ter 30% dos
assentos, e o presidente deve ser escolhido independente de quem for
eleito para o conselho. A gente é a favor de abrir. Outra coisa: 350
conselheiros para quê? Um clube de futebol tem que ter, no máximo, 100
conselheiros e 20 suplentes, está bom demais.
BT: Eles dizem que a gente está fazendo o tumulto. No
entanto, o tumulto começou em setembro, quando eles lançaram um
regimento eleitoral totalmente viciado e nós entramos na Justiça em
função dos prazos muito curtos. A partir da divulgação da lista, você
teria dez dias para compor uma chapa de 350 pessoas, enquanto eles têm a
chapa há quatro anos. Em agosto, o Século 21 solicitou a lista de
sócios votantes, mas esse documento sequer foi redigido pela diretoria,
que declarou o regimento eleitoral. Nós não queremos a lista para
divulgar, e sim para fazer toda a captação eleitoral. É a paridade de
armas. Além disso, o sócio torcedor, quando assina o termo, concorda que
os seus dados sejam usados para ações administrativas, que é o caso, e
de marketing. É uma relação associativa.
WS: A lista tem crianças de quatro anos, cadeiras cativas, gente que nunca foi sócio...
BT: A lista continha 9 mil nomes, e se deduz que todos
eles têm condições de votar. Se o quadro de associados tem 9 mil, o
próprio estatuto diz que o conselho deve ser composto por 10% do quadro
total, sendo limitados a 450. Esse edital é nulo, já que o estatuto
coloca uma regra que não é cumprida. Nós entramos com duas ações: uma
pedindo a lista e a outra, discutindo a questão das eleições. A ação que
requer a suspensão das eleições, a juíza se reservou a prestar o pedido
de liminar após a manifestação do Vitória. O presidente foi citado na
última sexta (22) e foi certificado no Diário Oficial na segunda-feira
(25). A partir do conhecimento dessa lista, verificamos que existiam
conselheiros que não são sócios. Nós fizemos um processo de investigação
na história do clube e fomos ao cartório onde fica registrado o
estatuto social e os atos constitutivos, e verificamos que, em 2010, na
eleição que elegeu esse Conselho Deliberativo, essa ata não existiu.
Essa eleição fictícia não foi registrada em cartório. A ata deve ser
assinada pelos conselheiros presentes e registrada em cartório. Como
esses documentos não foram registrados, o próprio conselho é ilegal.
BN: E qual seria o desdobramento principal?
BT: Suspender as eleições, já que elas estão sob
júdice. A única ata é a do conselho diretor, que só tem os nomes, e não
as assinaturas. No dia 15, caso essas eleições sejam suspensas, o cargo
de conselheiro e presidente vai ficar vago, levando a uma intervenção
como ocorreu no Bahia.
BN: Surgiu, na imprensa, uma história de que membros de oposição teriam procurado Sidônio Palmeira.
WS: Você acha que a gente vai ligar para o Bahia para perguntar essas coisas? Essas eleições são imundas, eles mentem em tudo.
BT: O que acontece no Vitória hoje consegue ser pior
que o do Bahia, já que no Bahia pelo menos existia a ata. Isso é um ato
extremamente baixo. A própria ação dos sócios do Vitória Século 21 é
totalmente diferente da ação do Bahia. Não haveria necessidade porque os
fatos falam por si.
WS: Isso tudo acontece porque eles não querem a
democracia. O que custa eles darem a lista de sócios? Eles têm medo de
perder o poder. Quando eles se pronunciam, nunca falam tecnicamente
sobre o assunto. Paulo Carneiro não faz parte do Século 21, é uma pessoa
que a gente tem respeito por ser ex-presidente. Eles acham que o
Vitória não tem que ter oposição.
BN: Falando em oposições, chapas, existe alguma possibilidade de uma composição com Fábio Mota?
WS: Ele é uma pessoa por quem o Século 21 tem enorme
apreço, respeito. No entanto, não temos nenhum vínculo com políticos.
Nunca conversamos sobre isso, mas como somos oposição, caminhamos na
mesma direção e queremos o bem para o Vitória. Amanhã ou depois podemos
chegar a uma conclusão e, se ficarmos juntos, vai ser um enorme prazer.
Mas a gente não quer um viés político na nossa chapa, ele pode até ser
político, mas tem que vir como torcedor.
BN: E com relação a essas similaridades com o processo de
intervenção do Bahia, como seria o processo de democratização do
Vitória? Teria algo parecido?
BT: O Vitória já permite que o torcedor faça sua
adesão e tenha direito a voto por meio do Sou Mais Vitória. A democracia
do Vitória começa mais adiante, seria mais tranquila, já que no Bahia
os torcedores não tinham condição de voto. O Vitória precisa agora de
uma mudança no estatuto que permita que o sócio se candidate a voto sem
precisar do conselho, e que esse conselho seja proporcional às chapas
concorrentes. Essa pluralidade permite que a administração tenha vários
segmentos, já que sem isso ela é, na verdade, uma ditadura. A mudança do
estatuto tem que ser boa para o clube.
WS: Tem que ser alguém que pense na instituição,
pessoas trabalhem pela perpetuação da instituição. Quando você sobe no
palanque, você precisa apresentar suas propostas. O presidente do
Vitória, que é completamente despreparado, diz que a gente quer voltar
para “mamar na teta do Leão”: isso é inadmissível numa civilidade.
Ninguém quer derrubar ele, ninguém quer que ele saia, a gente segurou
para na hora certa vir com a proposta e mostrar que a administração dele
é péssima.
BN: Mais alguma novidade sobre a chapa?
WS: Nossa presidente da chapa do conselho será a Dra.
Larissa Dantas. Uma rubro-negra conhecida, uma pessoa espetacular, que
tem uma ligação fortíssima com o clube… A Dra. Larissa será, se Deus
quiser, a primeira presidente do Conselho Deliberativo do Vitória. O
Vitória foi fundado por abolicionistas, tem uma história linda, e quando
deu uma arrancada, veio esse pessoal para segurar. A Dra. Larissa será a
presidente do conselho e o Dr. Roberto Elgaid é o vice-presidente do
conselho. O Século 21 vai entrar nessas eleições para ganhar e fazer, do
Vitória, um clube democrático e profissional.
BN: E a expectativa para caso as eleições sejam remarcadas e
vocês se inscrevam: vocês acreditam que têm o apoio da torcida para
vencer uma disputa eleitoral?
WS: À medida em que a imprensa começa a dar esse tipo
de espaço, temos a oportunidade de passar o que a gente pensa. A coisa
mais importante é isso: o torcedor precisa conhecer as propostas e saber
diferenciar a instituição do time. O momento do time não reflete o bom
ou mau momento da instituição. A instituição apequenou e começou a
pensar de maneira reacionária.
Fonte : Bahia Noticias
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