Essa era a realidade do Vitória nos 90 anos. Corremos para arrumar o gramado do Barradão, completamente abandonado desde 1986, quando foi precariamente inaugurado sem as mínimas condições de jogo. Compramos uma bomba sapo para tirar a água que se estendia sobre o campo formando grandes alagados, graças ao forte desnivelamento. Mas esse campeonato foi decidido durante as disputas do Brasileiro. E a final aconteceu numa quarta- feira a noite, 40 dias depois da penúltima rodada do quadrangular decisivo com Catuense e Leônico. Tínhamos dois pontos de vantagem para o Bahia e, portanto jogamos pelo empate. A decisão com o Bahia foi após um jogo nosso contra o Atlético em Minas. André assumiu o Leão pela primeira vez em meados do Campeonato Baiano de 1989, no dia 11/05/1989, quando o Vitória empatou em 2×2 com o Atlético-BA, substituindo Walmir Louruz. No entanto, ficou interinamente no cargo por apenas 2 jogos, até a chegada de José Amaral. Este, por sua vez, só durou no cargo por 12 jogos, voltando então André Catimba. Nesta passagem André ficou no cargo durante 15 jogos, sendo substituído por João Francisco. João comandou o time por 13 jogos, voltando novamente André Catimba, ficando no cargo por mais 14 jogos. André Catimba saiu novamente para finalmente João Francisco comandar o time até o final do campeonato. No Vitória ainda se vivia a síndrome do medo do Bahia comprar os árbitros e jogadores.
Em 1988 o clube contratou Tonho, um goleiro do futebol paulista, e muitos diziam que ele havia entregado o jogo final. Era uma agonia. Levaram o time para um hotel fora da cidade. Chamaram André Catimba para dar preleção para transmitir garra. Benedito Luz, histórico dirigente, deu palestra e ofereceu gorda premiação. Nada adiantou, o Bahia ganhou de três a zero.
Na preleção do jogo estava presente e quando acabou eu pedi que todos saíssem e fiquei sozinho com os dois. Meu Deus! Não podia pecar por omissão. Contei a eles o que estava passando e cheguei a ameaçá-los. Mas sinceramente não acreditava. Em 1988 tive dúvidas, mas esse ano não. Montei o grupo inteiro e os conhecia individualmente. Fomos para o jogo e na subida para o campo, Beto bateu em meu peito, visivelmente emocionado e mandou-me preparar o bicho. Empatamos em zero a zero com o Bahia, que meses antes tinha sido campeão brasileiro (15/02/1989). E fomos campeões. Robinson fechou o gol e Beto foi um gigante na nossa zaga. No outro dia, me lembro da foto no jornal de Robinson pendurado na trave, quase como um sinal de protesto contra minha desconfiança. Dois dias depois, no campo do Peroneo (na parte de cima da Toca), eu reuni todos os atletas e pedi desculpas aos dois pelo ocorrido. A partir dali, acabei com essa bobagem e dei ao Vitória o que ele precisava: estrutura. E os títulos vieram naturalmente. Ao Beto e ao Robinson, dois exemplos de atletas de competição, minhas desculpas públicas. Em 1990 esse mesmo grupo, com algumas alterações, nos deu o segundo bi campeonato da nossa história. E a síndrome acabou.
Por Paulo Carneiro
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