domingo, 4 de agosto de 2013

Walter Seijo afirma que trocar o Barradão pela Fonte Nova seria a sentença de morte do Vitória

entrevista seijo jm

O que você acha do Vitória mandar os seus jogos na Arena Fonte Nova? E a tentativa da diretoria do clube de esvaziar o Barradão? Esta discussão ganhou as redes sociais na semana passada após o editorial “Alexi Portela parece trabalhar para inviabilizar o Barradão” publicado no Jornal da Mídia. Walter Seijo, ex-diretor administrativo-financeiro na gestão de Paulo Carneiro, é taxativo sobre este assunto: “Existe hoje dentro do Vitória um esquema violentíssimo para levar o clube para a Arena Fonte Nova. O Vitória está sendo empurrado para lá, o que é um erro”.
Para Seijo, que fez parte da diretoria do Vitória por 18 anos e era um dos responsáveis pelas obras de infraestrutura do clube, o rubro-negro baiano só será competitivo dentro e fora dos gramados quando atingir uma receita anual da ordem de R$ 120 milhões – o dobro de hoje. E isto só será possível – afirma ele – com a transformação do Barradão em uma arena multiuso.
“Não se trata de se construir um estádio monotemático como é a Fonte Nova, mas um empreendimento que funcione de domingo a domingo e que seja uma fonte permanente de enriquecimento do clube. Uma arena moderna e bem planejada tem 36 possibilidades de receitas”, afirma o ex-gestor, lembrando que o rubro-negro dispõe hoje de uma área de 26 hectares para construir a sua arena. “Ninguém tem isso em Salvador”.
Walter Seijo conta que, após a Copa do Mundo, vários estádios que estão sendo construídos no País serão inviáveis. As arenas de clubes, a exemplo do Atlético-PR, no entanto, irão sobreviver. Qual o segredo? Seijo explica: “A arena do clube é feita apertando os custos. Quanto menos dinheiro se gastar em sua construção mais rápidos são o retorno sobre o capital investido e o lucro. Tem que ser uma arena em que você pague todos os custos em oito ou nove anos e a partir daí é só lucro. É este o modelo que o Vitória deveria seguir”.
Conquistas - O Barradão começou a ser construído em 1984 na gestão de José Alves Rocha. Foi inaugurado oficialmente em 1986. A partir de 1995 passou a a ser a casa definitiva do rubro-negro. Para se consolidar teve que enfrentar a desconfiança da torcida, a ira de boa parte da imprensa e o menosprezo do rival. Mas o sacrifício valeu a pena.
No Barradão, o Vitória conquistou 14 títulos estaduais. Foi lá que o rubro-negro revelou uma constelação de bons jogadores e alguns craques: Dida, Felipe, Fábio Costa, Dudu Cearense, Alex Alves, Vampeta, Paulo Isidoro, Rodrigo, Júnior, Fernando, Matuzalém, Hulk, David Luiz, Anderson Martins, Nádson, Alecsandro, Marcelo Moreno, Leandro Domingues, Elkeson, Wallace e Obina. Com o seu estádio, o rubro-negro se fortaleceu e foi às compras: contratou Bebeto, Petkovic, Russo, Chiquinho, Cléber Santana, Aristizábal, Túlio, Edilson, Vampeta e Flávio Maestri.
E mais - o Barradão transformou a realidade social e econômica do bairro de Canabrava, levando dignidade a milhares de pessoas que vivem no entorno do estádio. São empreendimentos imobiliários, supermercados, colégios e restaurantes que foram para a região.
Em outras palavras - o Vitória é um (nada) antes de seu estádio e outro (um clube respeitado, de torcida grande e apaixonada e vencedor) depois dele. É hora de sepultar o Barradão? Com a palavra Walter Seijo, que hoje integra o projeto “Vitória Século 21″ – grupo de oposição que vai disputar a sucessão do presidente Alexi Portela:
“Claro que não. O projeto Século 21 sabe que se o Vitória trocar o Barradão pela Fonte Nova estará assinando a sua sentença de morte”, afirma. “Qual o inimigo da arena do Vitória hoje? A cabeça dos dirigentes que estão lá”, completa o ex-gestor.
Em mais de três horas de conversa com a reportagem do Jornal da Mídia, Walter Seijo falou ainda sobre a administração do atual presidente do Vitória, Alexi Portela, a venda de jogadores na gestão de Paulo Carneiro, atraso de salários e o processo que moveu contra o rubro-negro. Segue os principais trechos da entrevista:
Quando Paulo Carneiro recebeu o convite do Bahia para ser gerente de futebol, ele se aconselhou com você? Você também teria ido se tivesse sido convidado?
Walter Seijo – Sim. Ele me ligou e eu dei a maior força para ele ir. Se eu estivesse na condição dele também teria ido. Hoje ele diz que se arrepende, mas não tem porque se arrepender. Paulo saiu do Vitória e ficou um tempo sem trabalho, sem renda. Ele não tinha economias. Ele não acumula, não guarda, é da natureza dele. Paulo quando foi para o Bahia tomou a decisão com o estômago e não com a cabeça. Ir para o Bahia é ético, legal e moral. Paulo não roubou jogador do Vitória e não falou mal do Vitória. Paulo foi para o Bahia por necessidade. Agora fica uma porrada de gente com suas contas pagas, com suas vidas resolvidas querendo que Paulo tome decisões para agradar essas pessoas. Agora ele se passou naquele episódio com Binha de São Caetano. Ir para o Bahia não significa nada. Levar o Vitória para a Fonte Nova é que uma guilhotina no pescoço do clube. Se a Fonte Nova tivesse sido concebida para a alavancagem dos clubes todos aplaudiriam. Mas a Fonte Nova foi feita para o enriquecimento de quem fez o negócio.
Além de ter ido trabalhar no Bahia, também pesa contra Paulo Carneiro o fato de ter colocado o Vitória na Justiça. Isso não contribuiu para aumentar a rejeição a Carneiro?
Walter Seijo - Contribuiu sim. Primeiro Paulo e eu fomos processados pelo Vitória, um processo com a finalidade de criar constrangimento. Como o Vitória devia 18 meses de salários a PC e a mim também, esperamos 2 anos, buscamos um acordo amigável, tratei do assunto pessoalmente com Jorge Sampaio,como não foi possível fomos a justiça, buscar justiça, e receber a nossa remuneração por conta do nosso trabalho. Não devemos nada ao Vitória, trabalhamos duro, o Vitória é quem nos deve. Isto sob o ponto de vista da relação trabalhista.
Uma das denúncias contra a gestão de Paulo Carneiro mais massificadas na mídia é de que os salários atrasavam no Vitória constantemente, o que não estaria acontecendo desde que Alexi assumiu. Esse fator, o atraso, fez com que o Vitória caísse para a segunda divisão com vocês. Faz sentido?
Walter Seijo - Não faz nenhum sentido, os salários atrasavam como também existiam períodos que pagávamos em dia. Em 2005 foi um dos anos que tivemos menos problemas financeiros. Em 2004 com a venda de Adailton também, foi um ano financeiramente sem muitos problema. Se esta diretoria pagasse os salário da maneira que propalam não teriam sido ajuizadas 127 ações trabalhistas desde que assumiu o clube. Afinal estas ações são motivadas porque? Claro, não pagamento de salários. Há pouco tempo estava sendo divulgado pela imprensa a processo que o técnico Marco Aurélio moveu contra o Vitória e eles colocaram o ônibus, os geradores de energia do estádio e até troféus, pasmem, troféus, como garantia da penhora de bens.
Qual era o orçamento no último ano da gestão de Paulo Carneiro?
Walter Seijo - Em 2005, o orçamento previa em números aproximados, R$ 8,5 milhões de receitas e R$ 11,5 milhões de despesas, ouve esta redução porque estávamos disputando a segunda divisão. O não recebimento do dinheiro proveniente da venda de Obina nos atrapalhou um pouco. Esta diretoria recebeu e detonou o dinheiro de Obina sem pagar a parte do parceiro que ingressou na justiça e o valor está nas nuvens.
Como foi a questão do processo de de Alexi contra você e Paulo Carneiro?
Walter Seijo – O que fizeram comigo e com Paulo Carneiro, repito, foi uma coisa ridícula, só para constranger. Um dia procurei o Alexi, por telefone, e coloquei a situação. Perguntei: você encontrou roubo no Vitória? E ele respondeu, não, não encontrei roubo. E insisti: e porque você nos processa? Nada respondeu. Alexi estava fazendo um trabalho contra nós, na verdade, a pedido de Rodolfo Tourinho, que puxava saco, recebeu comendas do Vitória e depois a traição foi geral. Albérico Mascarenhas também fazia parte desse grupo. Ele (Alexi) nos tratava com desdém, mudava de assunto sempre, próprio do seu perfil. E Paulo sempre o tratou muito bem, chegando ao ponto de escolhê-lo para receber a comenda Artêmio Valente. Depois disso eu me resguardei. Trocava ideias com Paulo e dizia sempre que pelo menos o Vitória estava nas mão de uma pessoa boa (Alexi). Tínhamos medo que o Vitória ficasse na mão de um aventureiro. De lá para cá, Alexi foi se juntando com a parte podre da imprensa, que o protege. Ele hoje é totalmente blindado. E nós não conseguimos espaço com ninguém. Todo mundo sabe que o Vitória Século 21, que vai disputar as eleições do clube, existe. Todo mundo sabe. É um projeto bonito, maravilhoso. O projeto não é meu, é deles. De Petter, de Larissa, de João Paulo e dos demais membros do grupo. Eu me coloco como o irmão mais velho para ajudar.
E como encarar a situação?
Walter Seijo - São sete anos de mentiras. Um torcedor que hoje tem 25 anos de idade, desde os 18 que ele houve dizer que Paulo é ladrão, que o Vitória deve muito, que o Vitória não cresceu porque paga dívidas, que o Vitória, apesar de contratar mal, é um clube equilibrado, que tudo de ruim que acontece no Vitória é culpa de Paulo… Poxa, sete anos que eles nos culpa por tudo, inclusive pela incompetência deles.
Sem espaço na mídia, como vocês atuam para tentar mudar esse quadro?
Wlter Sejo – Meu trabalho se concentra em desmistificar tudo isso que Alexi fala na banda podre da imprensa. Eu escrevo, rebato tudo nas redes sociais, nos sites das comunidades de torcida. Partimos para escrever, inclusive para rebater. O Alexi dava uma entrevista, por exemplo, sobre a parceria com o Exxel Goup da Argentina, dizendo que o negócio foi danoso e a gente respondia imediatamente. O Carlos Falcão dava outra, a gente mostrava as inverdades. Aliás, o Falcão não é um mentiroso, ele é a mentira. Ele mente tanto que ele e a mentira se transformam em uma coisa só. Conheço o Vitória como poucos, porque toda a estrutura foi nós que montamos em 18 anos no clube. Com muito pouco dinheiro e muito trabalho, sem cota de televisão. Nós encontramos um clube que não tinha jogo de camisa completo, não tinha ônibus, não tinha chuteiras e nós nunca falamos mal dos nossos antecessores. E nós unimos o clube todo porque entedíamos que se o Vitória chegou até ali é porque todos trabalharam, nossos antepassados lutaram pelo clube, fizeram o máximo. Nós sempre respeitamos o passado do Vitória. Vidigal Guimarães, que não deixou o clube quebrar em 1932, deu o nome à nossa concentração.
E a dívida que vocês teriam deixado, como é que fica?
Walter Sejo – Alexi diz que encontrou o Vitória na lama, que encontrou o clube quebrado. Deixamos o clube com R$ 26 milhões em dívidas a pagar e aí vem a colocação: mas R$ 26 milhões e o clube está saudável? Sim, totalmente. Vamos voltar um pouco atrás: em 12 de julho de 2000 o Vitória fechou parceria com os argentinos do Exxel Group, que tinha a obrigação de colocar imediatamente 6 milhões de dólares no Vitória para que o clube pudesse quitar sua dívida de 90 anos. A dívida do Vitória, quando o acordo foi fechado, era de 9 milhões de dólares e foi paga com US$ 6 milhões através de negociações com os nossos fornecedores. Com a chegada do Exxel transformamos o Vitória em um clube zerado. A partir daí, saimos do Esporte Clube Vitória, que foi entregue a Maneca Tanajura, e ficamos no Vitória SA. Passamos a ser empregados e funcionários da organização Vitória SA. Abrimos mão do poder, não tínhamos mais o poder. O EC Vitória tinha três assentos no Conselho de Administração e o Exxel tinha quatro, como acionista majoritário – 50.1% da ações contra 49.9%. Passamos a fazer o orçamento e o Exxel aprovava e aportava recursos para manter o déficit de caixa, que precisava ser coberto, é bom lembrar, com venda de jogadores. Para se ter uma ideia, somente em 2000 o Vitória recebeu o primeiro centavo do Clube dos 13. Antes o Vitória só recebia para disputar as competições da CBF, dinheiro para passagens e hospedagem. O Vitória começou a partir daí a receber R$ 1,2 milhão, em 2004, passou para R$ 5 milhões e se ficasse em 2005 na Série A passaria a receber R$ 11 milhões com o crescimento da cota da TV. Ele (Alexi) ficou com o Esporte Clube Vitória zerado. A diretoria atual pegou o clube e trabalhou de 2006 a 2010 com o Vitória SA. A partir de 2011 disseram que zeraram a dívida. Pegaram o Vitória SA, cuja dívida era de R$ 26 milhões, e passaram para R$ 86 milhões, pegaram esse clube e esconderam em Lauro de Freitas e começaram a operar com o Esporte Clube Vitória, repito, que estava zerado. Só que, todos os ativos do Vitória SA vieram para o clube, para o EC Vitória. Deixamos uma dívida de R$ 26 milhões, mas eu questiono com um exemplo: eu vou lhe oferecer uma empresa com uma dívida de R$ 1 bilhão, você quer? Sua resposta deve ser: depende. Você está me dando R$ 1 bilhão de passivo, quanto você proporciona de ativo? Eu digo lhe dou R$ 2 trilhões. Você vai dizer, eu quero. Uma questão não é quanto você tem. Você hoje pode ter R$ 500 milhões no bolso e quebrado se você dever R$ 5 bilhões. Nós devíamos R$ 26 milhões e tínhamos Hulk, David Luís, Marcelo Moreno, Marquinhos, Elkeson, Anderson Martins, Lee, Wiliam Santana, Ueliton, Leandro Domingues, Cleiton Domingues, Wallace, entre outros. Isso não é ativo? Um time cheio de jogadores valorizados? Além disso, deixamos R$ 5 milhões do dinheiro de Obina, que eles disseram que Paulo recebeu o dinheiro, botou no bolso e saiu e depois o dinheiro caiu na conta do Vitória, com Alexi na presidência. Uma inverdade, uma leviandade o que fizeram. Quando você vende um jogador para o exterior, uma cópia vai para o Banco Central, que encaminha uma cópia carimbada para a CBF. Só assim o BC faz o fechamento de câmbio e só pode entrar na conta do clube. Não pode ser diferente. Mas, insistiam com a leviandade. Receberam o dinheiro de Obina e nada disseram.
Por Redação Jornal da Mídia

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